quarta-feira, 18 de abril de 2012

Voltei.

 nós analisa  
nosánalisa 
nó sálisa 
nasalisa 
nas alisa 
nós alisa a vida.


A vida é lisa.


Ah...
Eliza...
Eliza...
que saudades das minhas jovens Eliza's...


tratei-as com carinho e me fui embora dias depois. A maturidade, depois de anos, bateu à porta e quem entrou foi a tua falta. A maturidade ficou esperando no tapete da porta esperando não que eu espere por ela, mas que eu vá até ela; essa preguiçosa.
Fui,


e que saudades que me deu de Eliza.




(Agradecimentos à Sabrina Medeiros)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Eliza segunda.

- Senhor, o senhor está servido?
Era incrível como esta gente achava que dinheiro podia comprar educação. Tudo o que o Velho soube fazer foi um súbito "ãhn...". E, vejam bem, um aceno, como que deixando óbvio que sim.
- Obrigada - afinal: ou só respondia isso, ou...
- Moça...? - chamava-lhe uma criança da mesma mesa.
- Sim? - sorria-lhe.
- Qual seu nome? - deixando, tanto criança quanto ela própria, envergonhados.
- Eli...
- Mas isso é coisa que se pergunte, pequeno? - ralhava com ele outra pessoa da mesa, uma senhora, que estava mais para Bisa do que para Avó.
Eliza apenas continuou sorrindo.
"Velha, bruxa, grossa, plastificaaaada!". E saiu.

Não estava legal. Aquele não era o seu meio, não podia ser!
Chegou no balcão em frangalhos. Apoiada, era quase visível uma fileira de pedras pesadas em suas costas.
- Mais um clente chato? - dizia o rapaz atrás do balcão.
- Não, 'magina.
Os dois olharam-se. Eliza respirou fundo, sorriu forçado e voltou a circular entre as mesas.
"Pensa na grana, pensa na grana!". Fazia de sua necessidade, também seu mantra.
O restaurante estava lotado; muitos a atender, poucos, muito poucos, a gorjetear, nem que fossem boas palavras.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Eliza primeira.

Eliza era uma menina doce, uma daquelas rosas sem espinho,
Fácil de manejar, sem retorços nem chorinhos.
Eliza, uma menina contente.
Eliza, uma menina sorridente. Sorridente desde pequena, mesmo quando não tinha dentes.
Era tão pequena quanto uma pétala, tão sútil quanto uma brisa.
Sempre muito sutíl,
Sempre muito pequena,
Andava de mãos dadas com seu tempo,
passeava com seu cachorro e não olhava em seu relógio.
Um belo dia foi-se para sempre, suave.
Ganhou a leveza que tanto quis, leveza pesada o bastante para pesar consciências.
Eliza passou a existir no momento em que deixou de se ferir.

Mas lembro, como se fosse mês passado. Pena que realmente fora.
Eliza caminhava por sua rua, com seu cachorro. Conversava com seu horizonte. Seu cachorro não parara de latir desde que eu a vira.
Eliza, sempre muito graciosa, soltou a corrente de seu querido com mais um sorriso, e seu querido nunca mais voltara. Deve ter sido naquele instante que a pequena Eliza percebera quem a prendia em seu dia-a-dia.
Quem a soltaria não haveria de ser outra.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Prólogo.

O trânsito de São Paulo estava insuportável; a Avenida Paulista um caos.
Eliza queria saber d'onde saíra tanta gente.
"D'onde raios tanta gente sai?", pensava, mais que indiguinada.
O som do seu carro não abafava as insuportáveis buzinas, buzinas e buzinas que simplesmente não paravam de gritar gritos que ela sabia conter muito bem nessas horas. O som do seu carro era bom, mas não abafava seu stress, seu dia, sua ira, sua pressa. A casa estava esperando Eliza, assim como Eliza esperava sua cama, mais que tudo.
Seu carro era confortável, caro, pretensioso e vermelho, como as suas unhas, seus cabelos, seu colar. Nem tudo era tão obviamente vermelho, pois seu sangue mais parecia Azul.
Da cor do som.
Da cor do céu.
Da cor de seus olhos,
e de seus cabelos, quando adolescente.

- Puta que me pariu - e buzinou como todos.